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[O edifício do balneário]

 

Época termal
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Indicações

Reumatismo


Tratamentos/ caracterização de utentes

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Instalações/ património construído e ambiental

À esquerda do estradão que chega à Fadagosa encontra-se todo o complexo arquitectónico das termas, actualmente classificado como imóvel de interesse público. À direita existe uma só construção de tipo rural, com dois pisos, que deve em tempos ter servido de albergaria.
No complexo termal o destaque vai para o edifício dos banhos, o maior em volumetria do conjunto de oito construções, todas em mau estado de conservação e abandonadas. Aliás todo o perímetro de construções é cercado por uma vedação, onde é visível a proibição de entrada.
O balneário é uma construção de dois pisos. Cada um destes pisos é definido por um corredor central que dá acesso a quartos, devendo corresponder o piso superior aos quartos de aluguer de 1.ª classe e o piso inferior a quartos de banho, coincidindo com a descrição da construção iniciada em 1886.
Separado deste edifício por um pomar de citrinos, também abandonado, ao centro do qual se encontra uma fonte decorativa, encontra-se outra construção que ostenta a data de 1893, também de dois pisos, onde se pode ver no piso térreo o que resta da venda/taberna do local. O 2.º piso encontra-se fechado, mas tudo leva crer que se tratasse de quartos de aluguer. Ainda para baixo desta construção existe uma outra de características rurais, que deveria servir para os guardas/caseiros das termas.
Num terraço num plano superior, há mais três construções, respectivamente os quartos de aluguer de 2ª e 3ª classes. O terceiro edifício é um conjunto de pequenas casas de aluguer para os aquistas, constituídas por uma sala no rés-do-chão (com a tradicional chaminé alentejana) e quarto no piso superior. Esta zona de construção deverá corresponder à ampliação feita em 1905, no auge da frequência espanhola.

Para trás do balneário há mais duas construções de menores dimensões, uma das quais deveria ser a própria nascente com a sua buvete (o lamaçal não permitiu a observação directa), e uma arrecadação de material.

 

Natureza

Sulfúrea sódica    

 

Alvará de concessão

1894 - Alvará de Concessão, passado a 16 de Junho, a favor de Matos Magalhães
1918 - Alvará de Transmissão, passado a 23 de Novembro, a favor Maria Teresa Fausto de Magalhães.
1942 – Alvará de Transmissão passado a 2 de Outubro, a favor de João Nunes Sequeira.

Consideradas abandonadas em 1971.     

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Historial

A primeira referência a esta nascente é resultante dos Quesitos Pombalinos de 1758.
Acciaiuoli (1944, IV: 140) relata a descoberta de uma pedra com uma inscrição: “Feita à custa do concelho, sendo Juiz de fora, o Dr. José Tomaz Miranda e Costa, no ano de 1780”. Segundo este autor, essa pedra “adapta-se à superfície superior de um capitel que está ligado à arca da fonte”.
Nos finais do século XVIII houve uma análise da água, executada pelo coronel Mouzinho e referida por Nunes Gago numas Memorias à Academia Real das Ciências, onde a nascente aparece com a denominação de “Maria Viegas”.
A mesma denominação é usada por Tavares (1810,157), que descreve o que existia à época como equipamento balneário: “No lugar da nascente tem os achacados das úlceras de pernas e de sarnas feito um poço pouco profundo a seu grado, de duas vargas até doze palmos de diâmetro, onde se mergulham e banham as chagas e o corpo todo, sem mais cautelas; o que não obstante conseguem alivio, e por isso continuam nesta prática, ainda que menos segura.” Os utilizadores desta água eram, no início do século XIX, sobretudo doentes de pele, mas Tavares (1810) propunha que se usassem noutras enfermidades, aquecendo-a, pois teria tantas qualidades que “produzirá em banho, os mesmos bons efeitos, que produzem, as que são quentes nativas”.
Ligado a esta nascente, surge a seguir na ordem cronológica uma personagem da História de Portugal, José Xavier Mouzinho da Silveira (1780-1849), natural de Castelo de Vide. Foi juiz em Marvão, Setúbal e Portalegre, em 1821 foi nomeado administrador da Alfândega pelo primeiro governo Liberal, depois preso na Abrilada (1824), a que se seguiu um refúgio em Paris, e em 1832 aparece como ministro da Fazenda do governo formado em Angra do Heroísmo pelo liberais. Na sua vida politica desempenhou cargos públicos como deputado e director das Alfândegas do Sul.
Em 1840, Mousinho da Silveira retirou-se da vida pública e passou só a tratar dos seus negócios. No seu vasto património contava-se uma herdade no Crato e 12 tapadas no concelho de Marvão, que incluíam três povoações - Valverde, Volta do Ribeiro e Pereiro, além de quintas e fazendas nos concelhos de Castelo de Vide, Marvão e Nisa.
Ao seu património na Tapada do Pereiro juntou os terrenos comprados em volta da nascente da Fadagosa, possivelmente com a intenção de aí construir um estabelecimento termal. Mas os terrenos da nascente continuaram a pertencer a Joaquim Vicente Mouzinho, possivelmente filho do coronel Mouzinho, autor da primeira análise destas águas. Falecido em 1842l os seus herdeiros tornaram as nascentes públicas, por vontade testamental, doando 8 contos de reis à Câmara na condição de metade ser utilizado na construção de um abrigo para os pobres que buscavam as águas da Fadagosa.
Mousinho da Silveira reclamou contra o Decreto de 1843 que reconheceu como pública a Fadagosa do Pereiro, considerando que os herdeiros queriam “vexar” a sua propriedade, excluindo-o da prioridade de exploração da água, mas os seus protestos nunca foram aceites.
Em 1873 a Câmara de Marvão elaborou um projecto para reedificação de balneários sobre as parcas construções existentes, mas o projecto nunca se concretizou.
Em 1885 todas as construções estavam em ruínas, e a Fadagosa foi posta em hasta pública por deliberação camarária, tornando-se proprietário Matos Magalhães.
No ano seguinte começavam as obras do novo balneário. Inauguradas dois anos depois, as termas contavam com 17 banheiras de 1ª classe, 17 de 2ª classe e 40 de 3ª classe. Este balneário seria classificado por Lopes (1892: 293) como “um regular estabelecimento balnear com hotel, junto às ruínas de um outro mais antigo, que a tradição atribui ao tempo dos romanos, do qual ultimamente só restava um poço de 12 palmos de profundidade onde se tomava banhos. No actual balneário muito frequentado por portugueses e espanhóis, há bastantes tinas de mármore colocadas em quartos apropriados, tinas portáteis de zinco e aparelhos para banhos de chuva ”. Quanto às indicações terapêuticas, Lopes (1892) considerava-as úteis, tanto ingeridas como por banho, no tratamento do reumatismo e de doenças cutâneas “e ainda da gota, ankiloses, úlceras e escrofulismo.
Em 1893 foi feito o reconhecimento do local pelo engenheiro Orey, para o processo de pedido de concessão que a Lei de Setembro de 1892 tornava obrigatório. O inspector descreve a história das termas, referindo mais uma vez a suposta fundação romana, e a geologia do terreno, numa linha de contacto entre o granito e xisto: “É exactamente neste contacto de um desses filões com o xisto que tem origem a fonte de água sulfúrea.
Quanto ao balneário, dividia-se em três classes, “todas com banheiras em pedra”, mas uma destas banheiras era reservada para “doentes morféticos e outras doenças asquerosas, cabendo aqui mencionar que, segundo me asseverou o proprietário, já aqui se deram dois caos de cura daquela terrível moléstia” . Quanto a alojamento, a capacidade era de 120 a 150, em quartos de várias categorias, e contava ainda com sala de bilhar e restaurante.
O médico inspector Tenreiro Sarzedas, no relatório referente ao ano 1902 critica o hotel, que se encontrava num piso superior ao balneário, e propõe que “seria de grande vantagem para os frequentadores e a própria estancia que o hotel fosse dali removido, utilizando o primeiro andar, em que está, na ampliação das instalações que o seu proprietário está disposto a fazer”.
O mesmo médico fez nova inspecção às termas em 1906, denominando-as a partir dai de Fadagosa do Marvão. Este relatório é elogioso para a estância balnear e para as várias melhorias introduzidas no edifício do balneário. Embora os quartos de 1ª classe continuassem sobre o balneário, a separar os dois pisos havia, em vez da antiga divisão em madeira, “umas consistentes abobadas, que isolam por completo e defendem reciprocamente o balneário e o hotel”. A aquisição de uma nova caldeira produtora de vapor permitiu iniciar tratamentos por inalações. Por último, a construção de outros dois edifícios separados, destinados a hotel um com quartos de 2ª e o outro com quartos de 3ª classe, tinha para o inspector como maior vantagem: “Assim, obsta-se à promiscuidade da clientela da estância, o que sempre de apreciar, e em geral se não vê proporcionado na maior parte das nossas estancias thermaes.” A frequência termal era então de 500 aquistas, na maioria espanhóis.
Na vistoria de 1923 “foi verificado que se encontrava fechado o balneário desde 1921 e quasi desprezado. O Hotel, com salas de leitura, bilhar, salão de bailes, etc. não tinha já mobília; para os doentes que queriam usar as águas, eram alugados quartos sem mobília […]Nas visitas seguintes foi verificado que, com o abandono, atingiu quase o estado de ruína ” (Acciaiouli 1944, IV: 146).

Em 1942, a concessão foi transmitida para João Nunes Sequeira, mas a exploração continuou precária e o número de aquistas nos anos seguintes não ultrapassava as três dezenas. Assim deve ter continuado até finais da década de 1950. No Anuário (1963) o artigo sobre esta nascente termina com a repetida frase: “Embora pagando os seus impostos ao Estado, o concessionário não tem presentemente, a exploração em actividade” . Em 1971 as termas foram declaradas abandonadas, e o que resta da Fadagosa Maria Viegas, do Pereiro ou ainda do Marvão, assim como os antigos jardins, é património classificado que aguarda obras de recuperação.

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Alojamentos

Em Marvão, a Pousada de Santa Maria, Albergaria D. Manuel, várias casas de turismo de habitação. Pensões e residenciais na Portagem e duas casas de turismo de habitação na Beirã.

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Recortes

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Bibliografia

Acciaiuoli: 1936; 1937; 1940; 1941; 1942; 1944; 1947;1948a;  1948b; 1949-50; 1953. Assunção 1845, Calado 1995, Carvalho 1920, Castro 1889, Coelho 1920, Contreiras 1937, Felix 1877, Freire 1911, Gago 178?, Henriques 1726, Lepierre 1915, Lopes 1892, Magalhães 1891, Magalhães 1894, Narciso 1920, Narciso 1948, Orey 1893, Ortigão 1875, Sanches 1756, Sarzedas 1907, Silva 1891, Silveira 1842, Tavares 1810, Águas minerais do Continente e ilha de S. Miguel 1940, Anuário Médico-hidrológico de Portugal 1963, Aguas termais da Fadagosa 1892, Portugal Hydrologique et Climatique 1930-42

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Dados gerais

Distrito
Portalegre

Concelho
Marvão

Freguesia
Santo António das Areias       

Povoação/Lugar
Herdade do Pereiro  

Localização
Na Beirã toma-se a EM-359-4 para a Herdade do Pereiro; no aglomerado habitacional do Pereiro, à estrada alcatroada segue-se um estradão, traçado na direcção NE, que se dirige para a linha fronteira. A pouco menos de 1 km encontra-se a Fadagosa.  

Província hidromineral
B / Bacia hidrográfica do Rio Tejo       

Zona geológica
Maciço Hespérico

Fundo geológico (factor geo.)
Rochas magmáticas ácidas e intermédias (granitóides)   

Dureza águas subterrâneas
50 a 200 mg/l de CaCo3

Concessionária

abandonadas

Telefone
n.d.

Fax
n.d.

Morada
n.d.

E-mail / site

n.d.

 

 


O corredor da antiga hospedaria sobre o Balneário




Os tempos áureos da Fadagosa do Marvão (In Acciaiuoli, 1944)